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Um dinossauro rumo as nuvens

Como desenvolvedor há mais de uma década, pude acompanhar muitas mudanças na indústria de tecnologia, principalmente nos últimos anos. Quando comecei, programas COBOL rodando em Mainframes, embora “mortos” há muito tempo, segundo meus professores de faculdade, eram a norma para sistemas em grandes empresas, especialmente do setor financeiro. Arriscando-me a cair em uma pieguice, ouso dizer que era uma época mais simples, fazíamos um breve curso e de repente sabíamos tudo o que havia para saber sobre programação e a única coisa que separava um desenvolvedor júnior de um sênior eram os anos de experiência de trabalho em uma determinada empresa ou sistema e não o grau de conhecimento em tecnologia.

Mas essa calmaria logo deu lugar a um sentimento de que estava ficando para trás, ainda que continuasse desenvolvendo sistemas somente em COBOL. Novas tecnologias ganhavam cada vez mais força, novos padrões de arquitetura e de gestão de projetos surgiam e eu não sabia como acompanhar. Era nítida a sensação de que minhas habilidades estavam se tornando obsoletas e isso gerou uma enorme inquietação em relação a minha competência e senioridade.

Foi quando percebi que precisava não só me atualizar, mas sim, me reinventar. O que fazer?


O início da jornada

Começo o início da jornada pelo fim: Não foi – não é – fácil!
O primeiro passo – e mais difícil – foi “aprender a desaprender”. No início é possível traçar paralelos e comparações entre as tecnologias para fins de assimilação, mas só consegui realmente avançar à medida que busquei aprender o mundo novo deixando o antigo para trás, sem o esquecer, é claro!

Foram muitas horas estudando e praticando, tentando aprender novos paradigmas, “novas” linguagens como Java e Python. Foi frustrante às vezes – sentia como um iniciante novamente, cometendo erros e lutando para entender até mesmo os conceitos mais básicos.

Mas persisti, afinal resiliência não é apenas uma característica desejável de um sistema, mas também uma virtude humana. Eventualmente comecei a ver os benefícios dessas novas tecnologias, de repente não eram apenas mais uma obrigação a cumprir, eram um novo campo de conhecimento a ser explorado. Fiquei surpreso com o quanto era mais fácil resolver problemas complexos em Python em comparação com o COBOL. O código era mais limpo, a colaboração entre desenvolvedores e empresas de todo o mundo geram milhares de bibliotecas prontas para serem importadas no seu código. As ferramentas são mais poderosas e as possibilidades ilimitadas.


O plano inclinado

E então veio a nuvem. Costumo dizer que essa jornada rumo a nuvem não é uma ascensão constante, mas sim um “plano inclinado”, ou seja, ele é plano, mas ascendente, os pontos de início e fim estão a alturas diferentes, as vezes imperceptível quando admirado muito de perto.

Entrar em contato com tecnologias de cloud foi como o descortinar de um mundo inteiramente novo, bem diante dos meus olhos. Lá estava eu – mais uma vez – diante de um território inexplorado, mas como dizem, com coisa boa a gente se acostuma rápido. A nuvem tornou muito mais fácil dimensionar e gerenciar infraestrutura, coletar e analisar dados, testar soluções etc. O que antes gastávamos meses até que tivéssemos uma infraestrutura para suportar uma aplicação, agora estava ao alcance de poucos cliques. Agora sim, finalmente, estava me modernizando.


Um capítulo a parte

Durante essa jornada do COBOL rumo as nuvens, também me vi mergulhando cada vez mais no mundo dos Dados e Analytics, conceitos como data-driven, data-first, data-ready, apareciam cada vez com mais frequência. Aprendi a coletar e analisar grandes quantidades de dados de forma rápida e eficiente. Descobri que a análise de dados não só pode fornecer insights valiosos para nossos negócios, mas também pode ajudar a melhorar nossas aplicações e processos.

Entrei de cabeça em diversos programas de treinamento em Data Engineering, Data Science, Machine Learning, bem, precisei fazer esse breve parênteses, mas essa jornada em D&A tem sido um capítulo à parte nessa trajetória, mas vou deixar essa conversa para um outro dia.


A Liderança 

À medida que continuei a aprender e crescer, me foi oferecida a oportunidade de me tornar o líder técnico de uma equipe. E, uma vez mais – e suspeito que não a última -, eu me via diante de um desafio para o qual me faltavam “ferramentas”. Foi uma experiência emocionante, mas nervosa – agora eu era seria responsável por guiar e orientar um grupo de jovens desenvolvedores cheios de energia. Eles tinham muitas ideias, novas perspectivas, maneiras diferentes de enxergar os mesmos problemas. Eu era o líder que tinha muito – tudo – a aprender com cada um deles.

Como desenvolvedor, sempre fui focado em resolver problemas essencialmente técnicos, mas cuidar de uma equipe, ainda que “apenas” tecnicamente, exigia habilidades adicionais que eu precisava desenvolver e aprimorar. Descobri que ser um líder técnico não se tratava apenas de ser tecnicamente competente, mas também de ser um bom comunicador, ouvinte e mentor. Precisei aprender a motivar e inspirar minha equipe, a delegar tarefas de forma eficiente e a fornecer feedback construtivo. Além disso, descobri que o sucesso da equipe dependia não apenas das habilidades técnicas de cada um deles individualmente, mas também de sua capacidade de colaborar e trabalhar juntos para alcançar um objetivo comum.

Trabalhar com essa equipe de alta performance foi uma experiência verdadeiramente transformadora. Juntos, pudemos ajudar a tirar do papel esse ambicioso plano de implantar no Brasil o Open Finance (Open Banking para os mais antigos), através da construção de uma nova funcionalidade, verdadeiramente moderna (no melhor sentido da palavra) mas que conseguisse se integrar aonde quer que fosse necessário, uma vez que na empresa temos sistemas legados que também estão envolvidos nessa empreitada. Criamos aplicações rápidas (muito rápidas, capazes de processar milhares de transações/segundo mantendo uma latência na casa dos milissegundos), confiáveis, observáveis e mais flexíveis do que qualquer coisa que eu já havia construído anteriormente. E com a nuvem, pudemos implantar esses aplicativos de maneira rápida e fácil, permitindo-nos responder às mudanças do mercado com grande velocidade.

Tornar-se um líder técnico, sim, “tornar-se” porque não nasci um, também não foi fácil. Ficou patente que a gestão é uma habilidade que pode ser aprendida e desenvolvida, assim como habilidades técnicas. E agora, liderando esse time incrível, continuo sempre procurando maneiras de aprimorar não só habilidades técnicas mas também as de gestão, para garantir que essa não seja uma jornada solitária e que acima de tudo consiga com que cada um da minha equipe, individualmente, possa destravar todo o seu potencial.


Conclusão

Olhando para trás, agora sim um pouco mais de longe, consigo enxergar com clareza que “esse plano realmente é inclinado, mas com certeza, ascendente”. Tudo o que posso dizer é que sou grato a empresa que em diversas oportunidade proporcionou os meios de formação, aos meus gestores e pares por influenciar de forma positiva nessa busca por conhecimento e também – e de maneira especial – a minha família, pelos sacrifícios que fizeram para que eu pudesse me dedicar a essas horas de estudo extra.

Se eu puder deixar um conselho a quem está pensando em encarar essa jornada, não me refiro a jornada de sair do COBOL, refiro-me a jornada de buscar conhecimento contínuo, eu diria para que façam o que deve ser feito, sem enrolação, sem hacks, sem caminhos fáceis, sem pessimismo, confiando no bom e velho esforço humano, porque conseguir algo que vale a pena dá trabalho e, por isso mesmo, é mais gratificante. A jornada com certeza é longa, mas é possível, muitos a fizeram, muitos a estão fazendo nesse momento, inclusive esse dinossauro que vos fala.

Hoje, posso dizer que faço parte de uma comunidade de pessoas que estão constantemente empurrando os limites do que é possível, constantemente inventando e se reinventando.

Estou animado para ver para onde essa jornada vai me levar a seguir!

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